Um post do Flog "Fotos do Solana"
Tudo começou, na verdade, em uma pequena cidade do interior do Espírito Santo, chamada Ecoporanga, que esteve no centro dos conflitos pela região do contestado entre 1945 e 1960. População Urbana: 14.000 pessoas; Dois bancos, algumas igrejas, a prefeitura, cidadãos simples com uma vida quase rural e nenhuma banda de rock até 1996, quando Juliano Gauche e Dante Ixo, se encontraram. Dante fazia parte de um grupo literário, cujos membros trocavam poemas e impressões sobre os textos, entre si, inspirados num poema de Carlos Drummond, onde ele reclamava o fato desse tipo de grupo não existir mais. Com a entrada de Gauche no grupo, experimentaram montar uma banda para musicar os poemas e em seguida passaram a escrever também já pensando nas canções. Embalados por Beatles, Drummond, Stones, Tropicalismos e Psicodelias, Garcia Marques, Vinicius e muitos filmes, escreveram dezenas de canções que traziam marcas indeléveis da distância dos centros e capitais, mas ao mesmo tempo não transparecendo regionalismos. Entre 1998 e 1999, compuseram a quase totalidade do disco de estréia que seria lançado bem depois, já em 2003. Embora o som da banda caminhasse em direção quase oposta aos movimentos que misturavam regionalismos e modernidade, como o "mangue beat" de Chico Science, tinham em comum parte da filosofia dessas bandas: a parte que diz que se vc tem a TV, os jornais, a Internet e uma antena, independente do lugar onde você estiver você tem acesso ao que acontece no mundo todo. Então, pode qualquer um podia ser universal e contemporâneo, fosse no sertão, no mangue ou na região do contestado, no meio do nada entre Minas, Bahia e Espírito Santo.
Em 1999, os compositores da banda, Juliano e Dante, com o apoio e direção do produtor Sérgio Benevenuto, gravaram sua primeira demo profissional. Mudaram-se para Vitória mas mantiveram um pé a quilômetros dali, na calmaria da cidadezinha onde compuseram suas histórias as canções. Daí até conseguirem montar uma nova banda foi mais um passo. Os outros três integrantes da banda, Murilo Abreu, Bento e Rafa Rocha foram convidados a entrar no projeto e assim criaram o Carpe Diem (antigo nome da banda), que já na primeira aparição pública ganhou o primeiro lugar num festival, o Rock Por Essas Bandas, organizado pela Rádio Transamérica e seu locutor Serjão Nascimento.
Em dezembro de 2003, já com o nome definitivo de SOLANA, lançou o primeiro disco, chamado "Quanto mais pressa, mais devagar...", que foi muito bem recebido pela crítica local e arrematou elogios até da conceituada revista musical International Magazine, de circulação nacional. Gravado no Rio de Janeiro e mixado por um dos maiores profissionais dessa área no Brasil, o produtor Fábio Henriques (que produziu o Rappa, Planet Hemp, Gabriel o Pensador, Lulu Santos, Renato Russo, entre outros muitos medalhões), o disco permaneceu entre os três discos independentes mais vendidos do estado durante algum tempo e o público recebeu muito bem. Ainda em dezembro, a banda dividiu os microfones com o ex-titã Nando Reis nos estúdios da Transamérica e recebeu elogios do músico ao seu trabalho. Em janeiro de 2004 foi convidada a se apresentar no reveillon, na praia de camburi, onde teve seu maior público: 70.000 pessoas assistindo, 250.000 na praia, segundo o Corpo de Bombeiros. Em seguida, um pouco mais adiante, na festa da Penha, a convite, tocaram pra mais de 60.000. Ainda em 2004, a banda foi escolhida para disputar a final do festival nacional da Revista Oi. Dentre 700 bandas do Brasil inteiro o Solana foi classificado entre os cinco finalistas.
O som do Solana mescla poesia, prosa, reflexos da MPB, da tropicália dos Mutantes e de Caetano Veloso, da psicodelia do fim dos anos 60, do punk oitentista, tudo misturado ao espírito moderno do rock de influências britânicas. O "velho novo" , como bem definiu seu produtor, fazendo referência às junções dos arranjos e as canções, que remetem aos idos anos sessenta e setenta, em alguns momentos, e a modernidade experimental de artistas como Beck, Flaming Lips e Radiohead, em outros.
Solana quer dizer "região ensolarada", "lugar ao sol", e na busca desse seu lugar ao sol a banda tem escrito sua história com passos firmes e decididos. Isso transparece nos shows, onde a energia do palco revela a juventude, rebeldia e a atitude dos jovens músicos e compositores da banda. Apesar da doçura, do lirismo que trazem as letras, da simplicidade honesta dos arranjos e canções, o Solana é uma banda de rock. Com a força necessária pra que possa ser chamada assim. Combinar peso e leveza, tristeza e alegria, resignação, poeira, mato, montanhas e revoltas, tudo junto, criando assim uma fórmula diferente e rara, esse é o mérito da banda. O Solana tem um som único, uma postura marcante e canções pra ficar na memória.
Postado no Flog por Dante Ixo no dia 06/01/2005.
Postado por Lucas Ribeiro às 18:32
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